sexta-feira, 15 de março de 2013

Coleções cervejeiras: Dicas para montar e manter sua coleção de rótulos


Na última matéria deste blog, falei um pouco sobre o meu hábito colecionista e sobre a coleção de rótulos de cerveja que eu mantenho. Coleções de rótulos são uma forma legal de agregar ainda mais sentido à experiência de beber cerveja e, com o tempo, podem se transformar em registros pessoais de seu aprendizado e suas experiências cervejeiras. Se comparadas às coleções de garrafas ou latas, elas exigem menos espaço e podem ser ampliadas com maior facilidade – com isso, é maior a probabilidade de que durem mais tempo e atrapalhem menos a sua vida.

Contudo, tirar e guardar rótulos tem seus segredos. Com este post, pretendo compartilhar com meus leitores as técnicas que desenvolvi ao longo de cinco anos de colecionismo incessante, para ajudar a todos os que tenham interesse em iniciar uma coleção de rótulos. As dicas a seguir servem também, perfeitamente, para coleções de rótulos de outras bebidas com garrafas de vidro (como vinhos ou destilados), mas eu pretendo me focar nas cervejas. A parte mais difícil dessa forma de colecionismo refere-se às formas mais viáveis de retirar os rótulos das garrafas sem danificá-los, preservando sua integridade física bem como a vivacidade das cores. Afinal de contas, um dos baratos de uma coleção de rótulos é que eles possuem um design atraente e chamativo, então não teria muito sentido sacrificar sua visualidade. Desvendado esse terrível mistério, darei ainda algumas sugestões para organizar a guardar sua coleção.

Como retirar os rótulos

E há, é claro, aquelas que 
combinam todos os materiais 
possíveis numa mesma 
garrafa.
Fonte: sidecarspeakeasy.com
A primeira coisa que precisa ficar clara a esse respeito é que não existe uma única técnica mágica que você possa usar em casa e que te permitirá remover eficientemente todos os tipos de rótulos. Cada rótulo emprega um tipo de material diferente, e cada material requer técnicas distintas: alguns são de papel fino, outros de papel mais grosso, outros ainda de PVC, alguns são metalizados, outros possuem uma camada plástica por cima, diferentes tintas podem ser empregadas para sua impressão etc. Além do material, há vários tipos de colas usadas pelos fabricantes, e cada uma vai ceder melhor a um método de remoção.

Dito isso, há três técnicas básicas (e algumas variações) que eu uso para remover os rótulos. Antes de apresentá-las, cabe um alerta inicial: não force a barra. Esse é o cuidado mais essencial para conseguir remover os rótulos sem danificá-los demasiadamente. Se você estiver tentando uma técnica e ela não estiver funcionando, não insista muito. Você pode aumentar o tempo de imersão em água ou a temperatura da garrafa, mas se, mesmo assim, não estiver funcionando, mude de estratégia. Em especial, se você começar a perceber que precisa aplicar força para descolar e o rótulo está se rasgando, pare. Com o tempo, você irá pegar experiência e perceber facilmente até que ponto pode forçar.

As técnicas de remoção podem ser divididas em três princípios básicos:

  1. Imersão em água: este é o método mais simples. Encha a garrafa com água e mergulhe-a num recipiente com água morna e um pouco de detergente ou sabão em pó. Alguns rótulos saem com facilidade em poucos minutos, enquanto outros, com a cola mais resistente e o papel mais fino, podem requerer até 48 horas de imersão para se obter um bom resultado. Tome cuidado com a temperatura da água, que não deve estar quente demais (teste com as mãos), ou você corre o risco de danificar a tinta de alguns rótulos. Os rótulos que reagem bem a este método são os de textura porosa, permeáveis à água, e aqueles que não são colados de forma homogênea, em que você nota que existem algumas pontinhas “se soltando” do vidro. Impressões metalizadas e colas mais resistentes (como as das cervejas americanas) exigem maior tempo de imersão.
  2. Aquecimento da garrafa: rótulos autoadesivos costumam desgrudar com facilidade em altas temperaturas. Para conseguir isso, leve a garrafa ao forno de cozinha por 5-10 minutos e, quando o vidro estiver bem quente (a ponto de você não poder tocá-lo com as mãos nuas), segure a garrafa com uma luva térmica, descole uma pontinha do rótulo com um estilete e puxe o restante com os dedos. Alguns saem como mágica, enquanto outros exigem que você aplique um pouquinho de força, com cuidado. Preste atenção ao tempo de forno: se você deixar o rótulo por tempo demais, pode acabar torrando o papel! Para evitar que isso aconteça, pode deixar a porta do forno levemente entreaberta enquanto aquece as garrafas (especialmente se você estiver aquecendo várias ao mesmo tempo). Rótulos autoadesivos, que colam de forma homogênea no vidro da garrafa, normalmente com películas plásticas protetoras por cima, como os da maioria das cervejas artesanais brasileiras, reagem bem a este método. Mas tome cuidado com os rótulos de material metalizado (como as da linha especial da Eisenbahn) e aqueles feitos de plástico (como os da Colorado), que vão deformar com temperaturas muito altas. Nesses casos, apenas aqueça de leve a garrafa e puxe: o rótulo sai com facilidade. Uma variante desse método consiste em soprar ar quente no rótulo com um secador de cabelo, o que vai funcionar bem com rótulos metálicos ou plásticos, mas nem tanto com os mais aderentes.
  3. Filme autoadesivo transparente: trata-se de um tipo de adesivo plástico transparente, normalmente usado para plastificar livros e superfícies. O mais famoso, fabricado pela Vulcan, é conhecido pelo nome comercial de Contact e pode ser comprado em qualquer papelaria. Este método de remoção funciona da seguinte maneira: após medir os rótulos, corte pedaços do adesivo e aplique-os diretamente sobre os rótulos molhados, cobrindo-os inteiramente e deixando uma folga em cada borda. Esfregue bem para garantir que o adesivo aderiu inteiramente ao rótulo e puxe num movimento rápido e contínuo. Se tudo der certo, a camada superior do rótulo deverá sair junto com o filme adesivo, deixando na garrafa apenas a cola e a camada inferior do papel, branca. Aí você recorta as rebarbas e fica com o rótulo já devidamente plastificado. Este método é o mais trabalhoso, sendo indicado para os casos em que os dois métodos acima já tiverem sido tentados sem sucesso. Tome cuidado com a gravata, que é especialmente manhosa devido à superfície irregular do gargalo da garrafa, o que dificulta a aplicação do adesivo transparente.


Até hoje, a combinação desses três métodos e suas variações me permitiu extrair os rótulos de todas as cervejas que eu já bebi na vida. Os únicos que tiveram de ficar de fora, infelizmente, foram as garrafas com rótulos serigrafados (ou seja, impressos diretamente sobre o vidro). Com o tempo, você será capaz de saber qual método deverá usar apenas ao analisar o rótulo com os olhos e os dedos – até lá, comece testando a imersão, depois o forno, e por último a película transparente. Contudo, esses três métodos não resolvem todos os nossos problemas: afinal de contas, depois de tirar os rótulos, o que fazer com eles?

Como guardar os rótulos

O primeiríssimo rótulo da minha coleção, colado na folha sulfite. 
Minha ausência de técnica resultou em estrias que você conseguirá 
ver se ampliar a imagem.
Fonte: acervo pessoal
Conheço algumas pessoas que simplesmente guardam os rótulos avulsos em uma pasta, mas, com o tempo, torna-se progressivamente mais difícil organizá-los se você fizer assim. Além disso, os rótulos autoadesivos, que saem da garrafa ainda com a cola no verso, não podem ser guardados com tanta facilidade, pois grudam uns nos outros. Por isso, eu costumo colar todos os rótulos em folhas de papel sulfite branco. Colo o rótulo, o contrarrótulo e a gravata de uma determinada cerveja juntos, na mesma folha, já devidamente secos, caso tenham sido removidos por imersão em água. Para os rótulos autoadesivos (que você removeu usando o método de esquentar a garrafa no forno), normalmente não precisará de cola nenhuma, pois a cola do próprio rótulo já faz o serviço. Para os demais, eu uso cola em bastão comum, que tem a vantagem de poder ser removida com facilidade: basta imergir novamente a folha em água morna que a cola desgruda.

Um desafio são os rótulos transparentes, como o da Heineken. Eles normalmente usam cores e elementos visuais pensados para funcionar em contraste com a cor da garrafa (âmbar/marrom, verde ou transparente – nesse caso, o contraste é com a cor do líquido). Quando você cola esses rótulos em papel branco, o contraste não funciona e o rótulo tende a ficar ilegível, ou pelo menos visualmente desinteressante. Por isso, eu costumo ter folhas de papel colorido (verde, marrom escuro e alaranjado). Ao remover um rótulo desse tipo, em vez de colá-lo diretamente sobre o papel branco, colo primeiro num papel com a cor correspondente à da garrafa, recorto e só depois colo sobre o sulfite branco. O efeito fica muito próximo ao original.

Assim que você termina de colar os rótulos no papel sulfite, normalmente a folha fica um pouco deformada, seja por causa do enrugamento causado pela cola, seja devido à curvatura do próprio rótulo. Para alisar completamente a folha com os rótulos colados, você pode deixá-la dentro de um livro grande e grosso (como uma enciclopédia ou um dicionário) e colocar alguns pesos por cima. Em um ou dois dias, a folha estará completamente lisa, pronta para guardar. Se você quiser guardar os rótulos avulsos, sem colar em folha nenhuma, também pode alisá-los da mesma forma.

Os quatro fichários da minha coleção fazem mais vista na 
estante do que qualquer livro com encadernação de luxo. 
E o melhor: todos feitos em casa!
Fonte: acervo pessoal
Depois, resta saber o que fazer com todas essas folhas cheias de rótulos colados. Uma dica é guardar cada um deles dentro de um plástico e organizá-los dentro de um fichário grande, como aqueles organizadores A-Z. Você pode classificá-los por nacionalidade, por estilo, por data de degustação, por preferência pessoal ou, simplesmente, por ordem alfabética (como eu faço) – fica a seu critério. Dentro do mesmo plástico, no verso, eu guardo minhas anotações de degustação, que eu imprimo a partir de fichas como as que eu publico na página de Cervejas avaliadas deste blog. Cheguei a esse formato depois de muito tempo de experimentação, mas, no começo, era só um registro detalhando quando degustei a cerveja, acompanhado de algumas frases de descrição sensorial. A princípio, você vai precisar de apenas um fichário para guardar sua coleção; mas, com o tempo, esse número certamente vai aumentar. Minha coleção, atualmente, já está terminando de encher o 4º organizador A-Z.

Claro que, como bom colecionador que sou, só incluo na coleção um exemplar de cada rótulo. Admito rótulos da mesma cerveja quando há diferenças no design ou indicações de safras diferentes impressas nos rótulos. Se as únicas diferenças são o lote e a data de validade, não guardo. Mas isso não significa que você precisa jogar fora os rótulos repetidos: você pode usá-los como material de decoração. Eu decoro as capas dos próprios fichários da coleção forrando-as completamente com rótulos repetidos: o efeito é muito bonito e chama a atenção de qualquer um. Muita gente para quem eu mostro minha coleção acaba gostando mais dos fichários em si do que dos rótulos guardados e organizados em seu interior! Com criatividade, praticamente qualquer objeto pode ser revestido com rótulos: cadernos, bandejas, caixas, quadros, o que sua imaginação permitir! E o impacto visual é realmente impressionante.

No fim das contas, o mais importante é que a coleção é sua, então as regras são suas. Dei algumas sugestões que podem ajudar a tornar a sua coleção mais organizada, mas, no fim das contas, quem vai definir como vai fazer é você. Convido todos a usarem o espaço dos comentários deste post para dizer como vocês organizam suas coleções e usam seus rótulos. Assim, podemos “colecionar” opções e alternativas para quem tiver interesse!

sexta-feira, 1 de março de 2013

Coleções cervejeiras: Minha coleção de rótulos


Minhas férias de início de ano têm sido uma oportunidade perfeita para cuidar de uma daquelas sarnas que eu sempre arrumo para me coçar: uma coleção de rótulos de cerveja. Sempre fui um colecionador: na infância, meu pai me confiou duas coleções que ele mantinha – uma, bem pequena, de moedas estrangeiras e uma de selos. Logo na sequência, eu comecei minha própria coleção, influenciado pelo meu pai: como ele fumava na época, comecei a colecionar maços e caixas de cigarro, que eu desmontava e colava em folhas de papel num fichário. O fato de meu pai ser do ramo da indústria de embalagens certamente influenciou essa minha forma de guardar minha coleção. Eu saía andando pelo meu bairro pegando maços vazios jogados ao chão, e de vez em quando meu pai comprava uma marca diferente da que ele gostava só para aumentar a coleção. Curiosamente, nunca cheguei a me tornar fumante, mas ainda tenho um carinho especial pelo cheiro do tabaco que fica impregnado nas embalagens.

A coleção de embalagens de cigarro foi abandonada algum tempo depois, mas o hábito do colecionismo me fisgou em definitivo. Durante a adolescência veio a paixão pelos quadrinhos e, naturalmente, o hábito de colecionar revistas, que eu abandonei pouco tempo depois e agora, depois de mais velho, voltei a cultivar. Depois disso, eu ainda colecionei as cartas de um jogo de baralho chamado Magic: the Gathering. O jogo era muito divertido, e as cartas, com belíssimas ilustrações, também rendiam uma coleção de encher os olhos, que eu guardo até hoje. Quando eu me dei conta de que o jogo estava tomando mais do meu tempo e do meu dinheiro do que eu gostaria, parei de jogar e investir na coleção.

A Basílica de São Pedro, no Vaticano, contém uma das 
mais importantes coleções de arte renascentista 
e barroca do mundo.
Fonte: whatafy.com
O colecionismo está longe de ser um hábito universal. Na verdade, ele é típico do mundo ocidental moderno, em especial após o século XIX. É verdade que coleções de arte já existiam no mundo ocidental há muito tempo: na Grécia antiga, os templos dedicados às musas (filhas de Mnemosine, deusa da memória, com Zeus) enchiam-se com as obras de arte produzidas pelos artistas que eram inspirados por essas figuras mitológicas – tratava-se dos chamados museion, palavra que deu origem ao termo museu. A partir da baixa Idade Média, em especial do século XIII em diante, a prosperidade das cidades e da Igreja permitiu um acúmulo de magníficas obras de arte nas grandes catedrais. Tanto é que algumas igrejas possuem acervos artísticos mais relevantes do que muitos museus de arte. A partir do século XV, as cortes da nobreza europeia também passaram a acumular as obras de arte produzidas para retratar os nobres e os feitos memoráveis das monarquias. Contudo, em todos esses casos, não se tratava de mero colecionismo: a reunião de obras de arte submetia-se a fins religiosos ou políticos. Ensinar a religião ou ostentar o poder e a riqueza eram mais importantes do que os objetos em si.

Já para o final do século XVIII, porém, o colecionismo começou a ganhar ares mais definidos com a formação de grandes acervos museológicos abrangentes, que seguiam critérios científicos e cronológicos. O desenvolvimento da botânica e da zoologia também estimulou muito esse tipo de coleção totalizante, pois a coleta de espécimes e a formação de coleções completas era um dos principais instrumentos para o desenvolvimento das teorias científicas e dos sistemas de classificação. Quanto mais abrangente fosse uma coleção, quanto maior fosse o número de espécies diferentes que ela conseguisse incluir, ou quanto mais representativas fossem as amostras, maior seria o seu valor. O século XIX foi a época das grandes coleções universais: por meio do colecionismo, a cultura europeia da época, profundamente imperialista, criava para si uma espécie de miniatura do mundo inteiro, e reforçava assim sua pretensão à dominação da natureza e do globo. Colecionar era uma forma de visualizar a dominação. Totalidade, abrangência, representatividade, classificação e controle passaram a ser as palavras-chaves do novo colecionismo.

A Exposição Mundial de Londres, em 1851, selou o vínculo 
entre colecionismo, museus e imperialismo. Cada país 
tinha um “stand” com objetos ou elementos 
considerados “típicos”.
Fonte: expotalk.ags-expo.com
Esses valores tipicamente oitocentistas passaram das grandes coleções institucionais para os hobbies privados, e até hoje se imprimem em nossos hábitos colecionistas. Queremos sempre que nossas coleções sejam as mais completas possíveis, que incluam o maior número de espécimes diferentes. Algumas coleções são fechadas, como os álbuns de figurinhas: uma vez que você completa todas as figurinhas, a coleção acaba. Mas, para um verdadeiro colecionista, isso é frustrante, pois o mundo jamais se esgota dessa maneira – e a coleção deve funcionar como uma espécie de miniatura de um certo mundo. O colecionista inverterado gosta mais de coleções abertas, que ele sabe que nunca podem ser completadas. Mas, mesmo assim, ele se esforça para que sua coleção seja abrangente, que inclua a maior quantidade possível de espécies dentro das fronteiras que ele definiu. Se ele coleciona selos do mundo todo, não está feliz enquanto não tem um de cada continente, talvez mesmo um de cada país. Se ele coleciona apenas selos brasileiros, quer pelo menos um de cada série. E por aí vai.

Quando comecei a beber cervejas diferentes, não demorou para emergir a minha ânsia colecionista – esse meu terrível hábito imperialista e oitocentista. Meu primeiro impulso foi o de colecionar garrafas e latas vazias – como é a primeira ideia da maior parte dos colecionadores de cerveja. Contudo, como colecionador sistemático que sou, eu logo percebi que isso criaria problemas para mim. À medida que a coleção crescesse, eu teria de encontrar cada vez mais espaço para as garrafas. Parecia razoável manter uma coleção de 100 garrafas em minha casa; mas e quando ela chegasse a 200, 500, mil garrafas? Dúvidas como essa foram as primeiras a assolar minha mente colecionista. Com o tempo, eu teria apenas duas alternativas: ou eu construía um espaço apenas para guardar, organizar, expor e classificar as garrafas, ou teria de abdicar da coleção. Sim, porque, para um colecionador, de nada vale uma coleção que não pode ser organizada e visualizada. Caixas e maleiros lotados de garrafas velhas que eu não posso olhar são só entulho, e não uma coleção.

OK, admito que uma vista dessas atiça minha sede 
cervejeira, mas não meu ímpeto colecionista.
Fonte: www.goodbeergoodpubs.co.uk
Como construir um espaço só para a coleção era algo inviável para mim, percebi que eu teria de otimizar o espaço. Por isso, em 2008, decidi começar a fazer uma coleção de rótulos de garrafas: em vez de guardar as garrafas em si, eu retirava os rótulos e guardava só eles, o que representava uma imensa economia de espaço. A princípio, eu também cortava a base e a parte superior das latinhas, aplainava-as e guardava as lâminas de metal como se fossem rótulos, mas depois parei de fazer isso, pois era muito trabalhoso e o resultado nem sempre era tão positivo quanto eu gostaria. Muitos colecionadores de rótulos gostam de entrar em contato com as cervejarias e encomendar rótulos novos, sem as cervejas correspondentes. Eu, pelo contrário, decidi que minha coleção seria composta apenas por rótulos de cervejas que eu havia bebido – seria uma coleção de rótulos usados das cervejas que eu mesmo tomei.

Assim sendo, a coleção não seria apenas de rótulos, mas também de experiências: era uma forma de manter um registro das diferentes sensações que aquelas cervejas haviam me proporcionado. Nunca me interessei por muito tempo por coleções que eu não tivesse, de alguma maneira, usado. Comecei a registrar por escrito essas sensações: eu escrevia e imprimia as impressões que tive das cervejas que bebi, para guardá-las junto com os rótulos. Com o tempo, obviamente esses registros foram ficando mais elaborados, até chegarem ao formato que eu emprego atualmente (as fichas de avaliação que compartilho com meus leitores na página de Cervejas avaliadas deste blog). Mais que uma “miniatura” do mundo cervejeiro, minha coleção passou a ser, antes de mais nada, uma “miniatura” do meu próprio percurso de aprendizado cervejeiro. É sempre um grande aprendizado reavaliar uma cerveja que eu bebi antigamente e depois comparar as anotações antigas com as novas. Com o tempo, minha coleção começou a se tornar parecida com aquilo que os enófilos chamam de “wine journal”: uma reunião de rótulos bebidos, acompanhados de registros e anotações de degustação para fins de aprendizado.

De 2008 para cá, cinco anos já se passaram. O número de rótulos foi crescendo sem parar, sendo que minha última contagem atingiu 622 rótulos diferentes – e um número mais elevado de avaliações, contando as cervejas que bebi em chope ou em lata e aquelas de cujas garrafas não consegui me apossar. Salvo engano, eles compõem hoje a coleção a que me dediquei ininterruptamente por mais tempo em minha vida. Não houve uma única semana, desde o início, em que a coleção não tenha se enriquecido com alguma coisa – seja uma nova degustação, um novo rótulo ou uma nova avaliação.

Devo admitir que dá muito mais trabalho retirar os rótulos do que simplesmente guardar as garrafas, mas a verdade é que minha coleção atualmente precisaria de numerosas estantes se eu fosse manter as embalagens inteiras e, da maneira como escolhi fazer, eu preciso apenas de alguns fichários. Minha biblioteca, que já ocupa prateleiras suficientes, agradece. Alguns rótulos são tão fáceis de retirar das garrafas que quase saem sozinhos, sem esforço algum, no próprio balde com gelo no bar. Outros são muito, mas muito mais desafiadores, e requerem toda uma gama de técnicas especiais. Já tive a oportunidade de discutir essas dificuldades e trocar ideias e experiências com vários outros colecionadores – existe até um tópico no fórum do portal Brejas exclusivamente dedicado a discutir as melhores maneiras de retirar rótulos. Na próxima parte desta matéria, exporei aos meus leitores minha metodologia, dando algumas dicas sobre como retirar os rótulos e organizar sua coleção. Se você tem algum resquício de colecionismo em sua alma, não perca!